sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Se números não existissem em uma partida de futebol

E o tão esperado jogo começa! Todo o público eufórico ansioso há tempos incontáveis!
O jogo se dá início com o time de branco, que apesar de ter mais jogadores do que o outro time, as pessoas não conseguem saber disso. Inclusive o jogo começa quando qualquer jogador do time branco colocar os pés na bola. O juiz aguarda ansiosamente!

E lá vai Leuclemar tocar na bola e corajosamente corre para frente! Dribles pelesísticos são executados, passos ronaldísicos efetuados e uma cabeçada digna de São Tomé faz a bola entrar de uma vez no fundo do gol! Todos sem exceção alguma comemoram o incrível gol marcado pela cabeçada de São Tomé, que é o nome dele mesmo, que inclusive tem a fé depositada por ambos os lados da torcida, já que ninguém sabe se foi exatamente gol contra ou não... Isso é decidido por qual torcida grita mais alto.

Com o fim das comemorações, o time rival deseja também receber os aplausos, então o goleiro Molarius pega a bola do fundo do gol e dá uma bicuda fenomenal! No próprio gol! E a torcida vai à loucura com dois gols seguidos em tão pouco tempo! Molarius repete a cena mais algumas vezes marcando gols desesperadamente até que o time oponente lhe rouba a bola e a coloca de volta ao meio campo. Alguns dizem que isso merece cartão vermelho, mas o juiz nega o pedido, apita e manda seguir o jogo.

Está sendo um jogo suado e por enquanto temos um empate, um fenômeno que só aumenta a tensão em campo e entre os torcedores. Cada centavo gasto no ingresso está valendo a pena, visto que cada um pagou o quanto quis, inclusive os próprios jogadores, rede de televisão, gandulas, jardineiros, pipoqueiros, faxineiros...

Como ninguém sabe o que é meio, a bola foi colocada em qualquer canto do campo. Por coincidência a colocaram na frente do gol do time branco e isso pareceu coerente. Como foi o time vermelho que acabou de marcar gol, o time branco começa e já seguem para a frente novamente. Diversas retiradas de bolas ocorrem, inclusive algumas até desaparecem e começaram a desconfiar dos gandulas, mas como não existem números, continuaram o jogo normalmente até que só sobrou a única bola, que por esta não sumir, os fez pensar que tinham infinitas bolas do mesmo jeito, já que sempre o gandula devolvia.

Como não há contagem de tempo, os jogadores individualmente, conforme querem, fazem a sua pausa ou trocam com outros jogadores, que inclusive só não entraram antes porque não quiseram, pois não há limites de jogadores, mas há sim rivalidade e inimizade dentro do próprio time em que um jogador não joga enquanto outro estiver em campo. É graças a essa inimizade natural que o número de jogadores não é exacerbado, a menos que um jogador de um time decida, em um jogo particular, jogar no time inimigo com a finalidade de simplesmente saciar sua vontade. Inclusive ele pode até fingir que joga para o outro time por muito tempo, fingir que marca gols para o outro time e até fingir que comemora o campeonato e fingir que gosta de todo o dinheiro que ganha. São chamados jogadores espiões, que sacrificam sua segurança durante a vida toda no time inimigo, jogando bem para eles.

Com toda essa descrição, vários jogadores foram descansar e alguns até foram para casa, assistir o jogo da televisão. Restam poucos jogadores em campo e enquanto sobrar pelo menos um jogador, o jogo continua.

E o escolhido para representar o esporte foi Lumeiste, mas apenas por uma questão de sorte porque apesar de se sentir sozinho em campo, ele acha que alguns jogadores voltarão após o descanso, como já aconteceu algumas vezes. Mas não foi dessa vez. Até o juiz já está entre a torcida e vendendo pipoca, que é seu segundo trabalho. Lumeiste só teve azar de ser goleiro, então ele teme sair do gol com a bola e de repente algum jogador chegar e saqueá-lo.

Após algum tempo, os torcedores começam a perceber que o jogo não vai pra frente, então o juiz fala para um torcedor pegar o cartão vermelho dele que está no bolso direito e levar até o Lumeiste para retirá-lo do campo. O torcedor, por mais incoerente que pareça, era um jogador reserva que estava esperando ser trocado pelo Lumeiste, então ele não aceitou entrar em campo. Ele odeia o Lumeiste. Nessa hora, o juiz ficou irritado, tacou as pipocas... não... gentilmente entregou as pipocas para uma senhora ao lado e mostrou cartão vermelho para este jogador! A torcida ficou extasiada! Nunca viram um jogador reserva ser expulso na história do futebol! Nessa hora Lumeiste percebe a chance de ninguém estar prestando atenção nele e parte em direção ao gol do oponente! Minutos de suor escorrem pela sua face, os músculos se contraem vigorosamente, e ele chega na linha do gol rival, pega ela com as próprias mãos e a torcida vai escandalosamente ao delírio da trombeta mágica com a defesa espetacular de Lumeiste!

Os torcedores alucinados invadem o campo para levantarem o mais novo artilheiro e melhor goleiro de todas as gerações de todos os universos. É ele, Lumeiste! Que inclusive era ele que ajudava os gandulas a roubarem as bolas. Ele tentou roubar aquela que ele agarrou, mas foi impedido pela população comemorativa.

Lumeiste pediu aposentadoria do mundo dos esportes. O juiz foi expulso pelo Conselho de Futebol pela má conduta, mas abriu a própria empresa de pipoca em formato de bolas de futebol, com aroma e sabor de chuteira opcional.

domingo, 25 de maio de 2014

Desejo de correr

Certo dia, já cansado de treinar corrida, eu estava caminhando e decidi pegar um caminho diferente, uma estrada, para ter mais espaço. Cheguei numa parte que tinha apenas uma pista, sem divisória para os carros, mas eu via um carro vindo da esquerda para a direita até desaparecer na curva. Depois outro vindo da esquerda até a direita, também desaparecendo após a curva. Até que fazia sentido... A pista se estreitou ainda mais, e passei a me estreitar para andar no cantinho dela.

De repente, eis que surge um caminhão ao longe e pensei: "Como ele vai... Meu deus!" E ele quase me atropela de propósito, pois tive que pular para o outro lado para escapar. Ainda na adrenalina, rapidamente me levantei e olhei para vê-lo desaparecendo na curva. Mas ele brecou igual meu coração nessa hora. O caminhão engatou a marcha ré e começou a vir na minha direção. Me virei e comecei a andar na minha, de boa... Quando olhei para trás, ele já estava de frente para mim, "Mas como ele vi... Deixa pra lá! Melhor correr!". Fui em direção à curva onde tudo desaparecia. De repente, vi um ônibus vindo em minha direção e pensei "Serei esmag... Mas pararam?". O ônibus estava carregado de gente com ferrões, tochas queimando e armados! Eu nem fiz nada e estou aqui por quê?

Algumas pessoas do ônibus apontaram para cima e então olhei. De lá descia um homem levitando. Pensei "Ele vai expuls... Ele matou o caminheiro!". Sem dizer nada, o cara foi voando para o ônibus. Pensei "Não acho que ele sozinho vai conseg... Nossa... Como ele fez isso?". Bom... Acho que é meu herói, meio violento, mas herói, daqueles que não cobram nada e vão embora sem... Por que ele está me olhando? Acho que vou pagá-lo por isso... Pego minha carteira no bolso, abro, procuro entre os dedos do cara que estão dentro da minha carteira e não acho nada, já é tudo dele... Pensei em ligar para a polícia e denunciá-lo em flagrante, até que vi a polícia chegando. O cara não fez mais nada além de ficar contando o dinheiro. O carro da polícia tinha dois policiais e tive a sorte de que eu conhecia um deles. Fiz a denúncia e apontei o cidadão que estava de costas. O outro policial preparou as algemas e foi até ele. Quando chegou perto, ele conhecia o cara! Eram amigos de infância e inclusive o cara voador é da polícia também. Percebi que eu estava numa enrascada das feias... Foi quando acordei... "Ufa, foi só um sonho. Achei que estava mergulhando num mar de piranhas!! E eu tenho medo do mar, das piranhas não, do mar mesmo!". Falei pro meu parceiro do presídio, mas ele não é amigável. Ninguém me escuta aqui.

Amaldiçoei o dia em que decidi caminhar na estrada, mas o dia nem havia terminado e não deu tempo de desamaldiçoá-lo. Neste instante, surge o "herói" e diz para mim: "Pare de beber." Não entendi direito, pedi que repetisse o que disse e ele disse "Voltamos à nossa programação". E estava eu sentado no sofá da minha casa assistindo televisão. Tudo não passou de um simples comercial de TV! Pensei "Que poder estr..." "CORTA!".

Nessa hora explodi! Eu estava atuando da melhor forma possível e o diretor simplesmente grita "CORTA?! Ahhhhh..." O diretor não gostou da minha atitude em desafiá-lo e fui expulso do programa. Não é porque ganho milhões de dólares que vou ficar obedecendo tudo o que me dizem! Vou voltar a fazer o que sempre tive vontade... Correr...

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A ideia

Desde que acordei de manhã com aquela ideia excepcional, não conseguia pensar em outra coisa. Deixei de arrumar a cama e me trocar para não esquecer-me da ideia e logo vazei de casa. Não comi, não tomei banho, não escovei os dentes, não entrei na internet, não falei com ninguém. Simplesmente fui embora. Deixei abertas as janelas, portas, o carro, o guarda-roupa, zíper da calça. Saí com o cabelo desarrumado, suor escorrendo, tênis desamarrado, meias diferentes, roupas amassadas. Deixei carteira, celular, chaves, sei lá mais o que não sei aonde. Primeiro pé na calçada e segui andando, não via carros, ônibus, pessoas, lojas, videogames, garotas. Mantinha a ideia na cabeça para não esquecer. Segui andando. Não via bicicletas, árvores, pássaros, flores, abelhas, garotas. Primeiro pé na estrada. Não via caminhões, trens, pedágios, túneis, parques, garotas. Largando tudo, menos a ideia. Ando, ando e ando, com a ideia na cabeça e não via aeroportos, templos, florestas, montanhas, oceanos, precipícios, garotas. Primeiro pé naquele precipício com a ideia na cabeça e segui caindo em pé mesmo sem ver a gravidade, escuridão, Grifos, Unicórnios, Dragões, garotas. Só via minha ideia. Primeiro pé na aterrisagem. Não via peso, corpo, matéria, garotas. No abismo só me restou sentar pra focar na ideia. Não via chão, bunda, respiração, sentidos, espaço, tempo, mente, garotas. Primeiro pé na iluminação e não via Buda, Jesus, Babaji, Krishna, Maomé, Kali, garotas. E a ideia ainda viva, imaculada para ser posta em prática. Primeiro pé na ideia e segui... Não vi nada, só garotas.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A queda de Felisberto

Felisberto era um homem de um sorriso contagiante e alegre. Todos que por ele passavam imediatamente sorriam alegremente e para sempre. Foi quando Felisberto num dia encontrou Lopácio, que também sempre tinha um sorriso contagiante e alegre. A partir daí, Felisberto nunca mais sorriu e jurou vingança!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Curta Perseguição

Quem era aquele rapaz?
Seria necessário perseguí-lo por toda a vida, desde seu nascimento até a morte para descobrir apenas uma pequena porcentagem.
Mas eis que me surge uma luz, eu precisava de uma pequena ajuda.
Chamei um de meus amigos, que costumo chamá-lo por Protetor ou Guardião.
Ele consegue se disfarçar de amigo de qualquer pessoa e descobrir a sua intimidade.

Ainda que eu o conheça perfeitamente, suas manobras me surpreendem constantemente. O que foi este mais um destes casos. Pois simplesmente andava eu pela cidade e recebi sua mensagem de que me aguardava em um prédio com aquele cara que eu perseguia. Me assustei e corri para onde estavam, pois qualquer falha colocaria toda a missão abaixo.

Chegando ao prédio, estava o Guardião conversando com o cara que perseguíamos. Eu precisava dar um sinal de que eu estava lá. Então fixei meu olhar ao dele. E ele captou. Seu olhar chegou até o meu e rapidamente nos tornamos um.

Sons de tambores começaram a tocar, aquele que perseguíamos foi capturado, mas nunca vejo como acontece. Minha missão é apenas essa... Indescritível, eu sei.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Oi, meu nome é

Oi, meu nome é, bom...
Sei que não nos conhecemos, mas eu gostaria queria adoraria de lhe (te) conhece.R
Sei que não nos

Nós não nos
Já Nos vimos apenas alguns dias e,
apenas queria te ver apenas SÓ mais uma vez... de novo?
Em outro lugar, em outro lugar.
Em outro lugar, em outro horário.

Quero descobrir de onde vem o seu sorriso, os seus sorrisos,
e se pode um deles pode vir de mim até mim.... definir isso ainda.
Que um de seus olhares sejam para mim
Que um dos seus olhares seja para os meus olhos(?)

Que um de se Que um de, Talvez, deste lado eu, eu destilado haha e você, heim?!

Que tal se eu e você e eu víssemos além deste lugar.
Que tal se você e eu nos víssemos em outro lugar? Qualquer hora, pode escolher.
Não me odeie por isso...
Me desculpa se, eu lamento se, Não que seja... Assim... normalmente as pessoas não acham estranho e eu entenderia se sentisse
Hoje não é bom, mas amanhã ou....
Não sinta raiva de mim. Espero não estar incomodando.
Não me odeie

Que horas?

Oi, meu nome é... Quero Queria saber mais de você. Não me...
Que tal hoje?

Calma, é o seguinte. Não Entenda isso como... Não que

Oi, em primeiro lugar eu...
Eu, eu... você
Eu só queria que
É que...

eu gosto de você, podemos nos conhecer?
Gosto de você, podemos nos
conhecer, ver, sair hoje? depois do trabalho, achoqueteamo

Viu, eu... Como vai? Tubém ai ? Meu nome é... Então meu, Oi...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Desconhecida Aline

Estavam no bar dois amigos, um deles muito querendo conhecer uma garota, mas não sabia como chegar até ela.

Após conversarem e beberem algum tipo de suco, o rapaz finalmente pede por uma dica rápida e que funcione, pois o bar logo fecharia e ele perderia a chance de falar com a garota.

O rapaz então lhe diz para usar uma técnica que ele usou e funcionou mais de uma vez. Simplesmente consistia de chegar na garota e perguntar se ela era amiga em comum de alguém que ele conhecia também. Porém, por segurança, deveria inventar um nome e descrições falsas. A garota questionada irá dizer que não, mas ai você parte para dizer que parece que já a viu e essas coisas.

- Logo você irá perceber se a garota te curtiu ou não, saco?

- Entendi... É uma boa! Ela está me olhando, realmente posso inventar que a conheço por outra pessoa, mas a pessoa para mim não existe! Não é?

- Isso ai, é tranquilo... Vai lá agora!

O garoto então caminha por entre as multidões, tocando os ombros de todos enquanto pede licença para passar. Ele então chega perto dela, eles se olham, ele não para de sorrir. Antes de falar, puxa um pouco de ar, aperta um poucos os olhos para se concentrar e começa...

- Viu... Você é amiga da Aline?

- Sim! Sou sim, muito amiga dela!

- Amiga mesmo? Mas é a Aline de cabelos compridos e...

- Isso, essa mesma!

- Pele um pouco...

- Morena, né? Demais a pele dela.

- E que pratica... - Diz o garoto já cansado de ser interrompido, fazendo gestos curtos de socos no ar.

- Ela luta muito! Vive viajando pra competição!

- Hum... Acho que não é a mesma Aline.

A garota não se aguenta e começa a rir muito. Logo pega na mão dele dizendo que irá apresentá-lo aos seus amigos e amigos da Aline.

Quando vão para o outro lado do bar, há mais ou menos 24 pessoas reunidas. A garota já chega gritando e calando todo mundo com a frase "Ai pessoal, esse cara aqui é mó amigo da Aline também!"

Todos os caras logo começam a sorrir para ele e vão cumprimentá-lo.

- Ela é legal mesmo, essa Aline né? - Pergunta tímido o garoto.

- Mas que pergunta! Aline é a melhor! Não tem pra ninguém! - Responde um cara bebendo cerveja e batendo os ombros no garoto a cada ponto de exclamação.

- E logo logo ela vai chegar de viagem! - Grita um outro.

- Pessoal, eu esqueci uma coisa ali atrás e... - diz o garoto tentando escapar.

- Calma todos! Ninguém se mexe! É ela me ligando! - Diz a garota toda animada.

Todos comemoram pela ligação recebida e alguns até lamentam que não foi no celular deles. Outros lamentam que esqueceram os celulares para lamentarem por isso. Outros nem estavam lá, mas foram avisados por SMS para se lamentarem.

Quando o garoto dá o segundo passo para conseguir se afastar sem ser visto, a garota no celular pergunta alto: "Como assim?"

E a cada 2 segundos, o drama aumentava com seu desespero, seguido de lágrimas e palavras como "Mas quando?", "Por quê?", "Não é possível!", "Não aceito isso!", "E agora?", "Alô?", "Respondam!" e "Nãooooo!". Obviamente a partir do "Alô?" já tinham desligado na cara dela.

Todos ficam em silêncio observando a garota chorar com o celular na mão desligado e ainda próximo aos ouvidos e boca. Alguém chega perto e pergunta o que foi. Ela não esconde. Grita como se ecoasse em toda a cidade: "Ela morreu!".

"Ah... Agora sim..."

O garoto fica parado enquanto alguns vão em direção à garota exigindo explicações, outros estão chorando por todo o lado no bar, alguns estão irritados com a situação, e outros foram avisados por SMS sobre o ocorrido.

- Rapaz? Tudo bem com você? - Pergunta um cara grande e forte pro garoto.
- To... To bem sim. Diz o garoto tentando parecer triste, mas não conseguindo.

- Não entre em choque rapaz, vou chamar um médico pra você!
- Ã? O que? Não! Não precisa! - Responde o garoto tentando para-lo.
- Eu sei como é perder uma pessoa que se ama. Sei que vocês eram muito amigos, mas fique ai que eu já volto.

O garoto tenta fugir, mas todos no bar estão agitados e ele não consegue sair. Seu amigo desapareceu na multidão. Logo já chegou a polícia e ambulância para acalmar o povo.
O rapaz grande e forte correu até um enfermeiro e indicou o garoto que estava em choque. O garoto estava parado olhando pro chão.

- Nossa, realmente está pra baixo. Devia gostar da Aline mais do que nós, não é? - Diz o enfermeiro para o rapaz.

O garoto na verdade pensava em como sair dali, quando olha para o lado e vê o enfermeiro chegando.

O garoto estica os braços, mas quando o enfermeiro vai pegá-lo, ele grita "não!" e sai correndo, conseguindo empurrar a multidão e chegar até a porta do bar. Lá, ele encontra a garota que lhe puxou a mão, a mesma que recebeu a notícia pelo celular, e a mesma que agora chorava e olhava para ele.
Ele caminhou em direção à ela e sentou-se ao lado dela.

- Viu... É... - O garoto tenta falar, mas é interrompido por ela.
- Não, não precisa me consolar. Essas coisas acontecem. É bom estar aqui com você.
- A é? - Pergunta o garoto, surpreso.
- Sim... Eu liguei para os pais da Aline. O velório será amanhã à noite, está bem?
- Ótimo. Nos veremos lá então? - O garoto tenta se manter convincente.
- Bem... Sim, com certeza.
- Está bem.
- Promete que vai?

- Prometo. - Responde o garoto.

- Prometo que irei e conversaremos mais. - O garoto continuou.

- Que bom.

Algumas poucas olhadas menores que essa frase descritiva ocorreram entre eles.

- Estou vendo que está indo.

- É... Eu estou indo mesmo, isso virou uma bagunça! - Responde o garoto.

- Está bem. Até amanhã então. - Diz a garota sorrindo.

- Até amanhã! Bom te conhecer.

- Digo o mesmo! Tchau.

Parte, amor, porta, ama, cama, amar, dormir, amo, acorda, amamos, vai, amando, velório, amou.

"Será que eu deveria estar aqui?" Pergunta-se o garoto após 30 minutos de já ter entrado no velório.

O garoto chega perto do caixão tentando ver o rosto da Aline, mas foi impedido pelos familiares, que queriam que todos os amigos preservassem suas melhores memórias de uma Aline forte que conheciam.

Após alguns minutos, a garota chegou perto dele, agarrou a sua mão e logo soltou, olhando-o por algum tempo antes de falar.

- Ei, vamos então? - Pergunta a garota para o garoto.
- Vamos... Sair? - Pergunta o garoto.
- Uhum... - A garota responde bem baixinho e olhando para a frente.

Os dois caminham para uma praça perto, pegam sorvete para tomar, mas não conversam.

- Tem algo que... Quero te contar. - Diz o garoto após o silêncio lhe incomodar.
- Sim, eu também tenho algo pra te contar. - Diz a garota.
- Ah, bom... Então diz você primeiro.
- Obrigada!

A garota pensa um pouco e logo começa.
- É assim... Eu sei que é você o garoto, e fico feliz de estar com você.
- Não entendi, pera ai.
- A Aline... Antes de viajar ela me disse que iria me apresentar um garoto, que eu iria gostar muito e essas coisas.
- Hum... Sei.
- Não sei se sabe mesmo, mas sei que é você. Ela disse que o rapaz seria exatamente como você é.
- Bom, ela não me disse nada. Diz o garoto fingindo procurar em sua memória.
- Acho que ela não te contou mesmo. Quando eu te olhei no bar, eu suspeitei que era você. Mas quando você me disse que era amigo dela, eu tive certeza.
- Que bom que me identifiquei!
- Sim, foi ótimo. No começo eu achava que fosse mentira toda aquela descrição dela, mas você é real.
- Você também é. E a Aline também.

A garota riu um pouco do que ouviu. Pensativa, mas riu.

- Eu estou gostando de você. - Diz a garota.
- A é? Eu acho que já gosto de você. - Diz o garoto.
- Como conheceu a Aline? - Pergunta a garota.
- Ah... Bom... Não sei dizer... Pra falar a verdade...
- Sim, eu entendo... É o que todos dizem e eu também. Todos sentem que a conhecem há muito e muito tempo. Ela foi minha melhor amiga.
- Eu posso dizer o mesmo. - Diz o garoto.

E conversaram durante muitas horas, dias, meses... Talvez durasse anos, décadas, séculos.

"Só não entendo de onde eu inventei Aline, se eu tivesse falado qualquer outro nome..."

Fim.

domingo, 18 de julho de 2010

O Reemprego do ex-assaltante

Estava uma noite muito escura, afinal, era noite.

Em uma cidade muito pobre, mais exatamente em um quarteirão sem iluminação e com algumas casas abandonadas, caminhava um sujeito em um escuro casaco casado com a escuridão da noite.

Do outro lado do mesmo quarteirão virava outro sujeito em semelhante aspecto, mas com a diferença de uma iniciativa agressiva em que, ao encurtar-se a distância entre eles, tirou por debaixo da blusa uma arma e a apontou ao sujeito do casaco. O do casaco também se apontou para a arma igualmente sem medo e perguntou o que ele queria. A arma não disse nada, mas o sujeito que a segurava queria seu dinheiro. O do casaco olhou, olhou e então disse "Eu te conheço, rapaz!".

"Ó meu Deus!" ou algo assim bem menos dramático, com certeza, foi o que o da arma disse. Um silêncio pairou no ar por alguns poucos segundos, mais ou menos esta duração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,.

Eles piscaram na vírgula, talvez você também. Logo o da arma reconheceu o do casaco e lhe pediu desculpas. Eram colegas da mesma empresa Sociedade dos Criminosos, com CNPJ, crimes legalizados e tudo o mais, mas que fechou as portas devido à crise, deixando na rua muitos desempregados e muitos deles, para sobreviver, foram para o mundo do crime como freelancers, mas eram considerados foras da lei. O do casaco disse que conseguiu entrar em outra empresa de crimes devido ao bom curriculum, mas o da arma, não. E também desistira de realizar o assalto, pois estava mal consigo mesmo. Talvez voltaria a viver com a avó, que era dona de 28% das bolsas da referida empresa falida.

Conversaram bastante os dois velhos conhecidos, mas o ex-assaltante desempregado não se animava. E para isso, ao ver um sujeito com uns piercing atravessando a rua, o do casaco disse "Ei... Que tal aquele dos piercings?". O da arma olhou o dos piercings e disse simplesmente "Não.". O do casaco insistiu em ir. O da arma insistiu em não e depois disse que o dos piercings é seu amigo de rua. O do casaco disse "Mas não é meu."

O da arma olhou para o do casaco, que não tinha mais casaco e sim uma arma apontada em sua direção. "Eu te dou um emprego onde estou!". E ambos se apontaram a sua arma.

"Balela!" ou algo assim bem mais macho, com certeza, foi o que o da arma disse. E ambos, com as armas apontadas, esperaram o momento exato para atirar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . . ,.

Nunca mais viram o dos piercings. Lamentável...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Espera

Venho a esta praça há muito tempo e tenho tantas historias para serem contadas que lhes poderiam parecer que vivi três ou quatro vidas ao mesmo tempo, mas não serei o contador de historias. Outro o será melhor que eu, pois ainda que eu tenha as habilidades das palavras, meu dom é o do silêncio.

Sempre que venho consulto se é ou não o meu último dia. E faz tempo que estou nesse caminho...

Cada vez me lembro de algo diferente e hoje é uma pessoa... Uma garota... Não lembro nome, aparência, nada. Não a amo mais... Digo... Na verdade quando estava presente eu a amava muito. Quando se distanciou, aos poucos fui amando a saudade. Depois que desapareceu e o tempo passava, passava levando a saudade e, também, o meu amor por ela. Não que deixei de amá-la... De amá-la a amar a saudade, agora amo a lembrança de que a amava.

Eu lembro de sonhos que tinha. Sonhos que realizei. E que agora são sonhos de novo.

Sempre busquei bons exemplos em minha vida e lembro de meus pais como se eu os fosse agora e Eles, eu e Aliás, É no que acredito. Que sou como o eco deles.

Mas a vida é tão longa que nenhum eco faz jus à sua duração. E a saudade sempre vai quase injustamente mais longe do que a própria vida que a sente. E a minha foi tão que subiu além dos Céus, como uma pipa que ao chegar ao final do carretel estoura, com muita força, o último fio do cordão que a prende à Terra.

O cordão da minha vida também está para se desprender deste carretel sentado ao banco... Mas em paz.

Também... Sinto que minhas lembranças estão morrendo primeiro, talvez para que eu vá como um recém-nascido, sem remorso de perdas, sem ilusão de ganhos. Sinto que sou como um grande dicionário que tem suas páginas arrancadas a cada vez que consultadas... E em uma hora só restará a capa, pois ainda que eu tenha as habilidades das palavras, meu dom é o do silêncio.

Mas vou embora mais um dia. Voltar para minha casa onde um velho companheiro me aguarda para mais um dia de meditação. Quem sabe amanhã eu... Eu me lembre de outra historia. O cordão ainda está muito longe de se quebrar.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Invenção do Escritor

Havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento, só havia tido a ideia de que tudo se passava em uma casa com muitos quartos, e em um deles, havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento, só havia tido a ideia de que tudo se passava em uma casa com muitos cômodos. Cômodo era sua situação se continuasse nesse ciclo. Percebendo isso, decidiu sair para explorar um pouco a vizinhança.

Havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento, só havia tido a ideia de sair de sua casa e visitar os vizinhos e, em um deles, havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento, só havia tido a ideia de sair de sua casa e visitar o vizinho, que também era escritor e estava saindo para visitar os vizinhos.

E na calçada se encontraram e se convidaram ao mesmo tempo. Riram-se da coincidência. Aceitaram o convite um do outro ao mesmo tempo. Mais riam-se da coincidência. "Então pode vir", disseram ao mesmo tempo um ao outro.

Juntos, os escritores, pensavam em uma nova historia em que, até o momento, só haviam tido a ideia de que tudo se passava na casa de um deles e lá, juntos, os escritores pensavam em uma nova historia em que, até o momento, só haviam tido a ideia de que tudo se passava na casa de um deles e lá havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento, só havia tido a ideia de que tudo se passava em uma casa com muitos quartos e, em um deles, havia um escritor pensando em uma nova historia em que, até o momento...